A Língua Portuguesa na Índia e em outras Terras

Esta coletânea de ensaios, A língua portuguesa na Índia e em outras terras, situa-se num momento político que solicita reconfigurações de estratégias e repactualizações, com horizonte no comunitarismo cultural de natureza supranacional. No plano da vida cultural, entretanto, essa repactualização continua muito tímida. A intelectualidade no Brasil e nos países ditos ocidentais, em geral, têm-se colocado a reboque dos acontecimentos, dando visibilidade a discursos legitimadores das hegemonias estabelecidas. E nestas reflexões dos ensaios, voltados para a língua, literatura e cultura de língua portuguesa, configuram-se estudos que se afastam de certas vozes críticas desse processo de articulação, mas que acabam por se restringir a formulações meramente melancólicas, próprias de quem se limita a contemplar ruínas. Assumem os autores dos ensaios, em seus respectivos campos científicos, um sentido oposto: são imbuídos de atitudes mais ativas e prospectivas, para criar ou redesenhar, com matização mais forte, tendências voltadas para a cooperação e solidariedade, não apenas em relação aos países de língua oficial portuguesa, mas também com países como a Índia, que integra o bloco econômico dos BRICs. Pelas margens dos discursos hegemônicos, esses ensaios apontam para relações linguístico-culturais de sentido comunitário, abrindo-se a outros comunitarismos supranacionais, que abarcam América Latina, África e Ásia. Colocam-se, com as articulações dos ensaios aqui reunidos, num horizonte de cooperação e solidariedade. Constituem um efetivo contraponto ao paroxismo da competitividade, que segue a lógica dominante da assimetria dos fluxos econômicos e culturais. Essa inclinação para essas aproximações supranacionais constitui uma reação aos efeitos perversos dos modelos articulatórios da economia dominante, que flexibilizaram fronteiras nacionais para impor a sua ordem. Entretanto, já que toda hegemonia é porosa, foi pelas brechas desse processo globalizador que se firmou a necessidade de articulações amplas, envolvendo esse crescente comunitarismo supranacional, que não se atém ao campo sociocultural, mas também ao político e econômico.