quinta-feira, Junho 5, 2025
Português, Brasil

A pesquisa que dá origem a esta tese trata da Educação da/na Guiné-Bissau, país localizado na costa ocidental africana, colonizado por cinco séculos pelos, que foi utilizada como estratégia de dominação colonial. Neste sentido, a pesquisa procura responder como ocorre a perpetuação dos saberes coloniais e a reprodução de práticas pedagógicas colonizadoras no ensino da Geografia na Guiné-Bissau e quais são as possíveis rupturas como forma de resistência sobre o colonialismo português? Além disso, apresento uma possibilidade de ensino de uma Geografia Decolonial. Neste estudo, adotei uma abordagem metodológica centrada na observação solidária, empática e co-construtiva, centrada no participante, no qual, os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas e aplicados questionários estruturados a professores e estudantes guineenses. A Análise de Conteúdo, foi ancorada em Bardin (2011), agrupando os relatos dos interlocutores em três Eixos: 1) Formação de professores de Geografia; 2) Permanências e rupturas da colonialidade na prática docente na percepção dos professores; 3) Permanências e rupturas da colonialidade na prática docente na percepção dos alunos. Seus relatos/percepções e respostas constituem-se como matéria prima na realização das análises, em cotejamento com as lentes teóricas de epistemologia decolonial, utilizadas, como Fanon (2008), Freire (1978 e 1987), Sané (2019) e Meneses (2010; 2014; 2018). A partir das análises, identifiquei que os professores de Geografia da Guiné-Bissau, possuíam um currículo de formação desconectado das suas principais realidades e necessidades, sendo criado inicialmente na modalidade bacharelado de forma concomitantes ao curso de história pelos Soviéticos, onde era priorizado a Geografia física. No decorrer da pesquisa, participei da equipe que criou o primeiro Curso de Licenciatura em Geografia do país, no qual buscamos conectar as realidades e necessidades guineenses. Com relação a análise das permanências e rupturas nas práticas dos docentes na atualidade, verifiquei que a perpetuação está ligada principalmente às práticas opressoras, com a manutenção manipulação de castigos e punições por parte dos professores. Percebi que a maior parte dos professores de Geografia na Guiné-Bissau utilizam métodos de ensino que privilegiam a memorização de informações e conceitos em detrimento daqueles que possibilitam a aplicação de uma educação libertadora e emancipatória. Nessa esteira de pensamento, desenvolvi a categoria das Crenças Pedagógicas Coloniais, definida como um conjunto de ideias, valores e práticas educacionais estabelecidas durante os períodos de colonização por parte das nações europeias em suas colônias, que refletem as perspectivas e os interesses dos colonizadores, promovendo a superioridade cultural e intelectual eurocêntrica em detrimento das culturas e dos conhecimentos dos povos originários. Na busca pelas rupturas, constatei que elas estão interligadas diretamente a cultura, nas escolas, alunos e professores valorizam as suas línguas nativas, principalmente crioula, pois é a que une os povos guineenses. Por mais que seja proibida, é a língua falada pelos alunos. Os professores quando encontram dificuldades para explicar em português, recorrem a língua crioula. A religião é outra ruptura constatada, o catolicismo é muito pouco praticado no país, as escolas, com exceção das católicas ou portuguesas, não priorizam nenhuma religião, não tendo essa disciplina nos currículos escolares. As roupas africanas também são muito utilizadas pelos professores, principalmente as sextas-feiras, já os alunos, em sua maioria utilizam uniformes. Analisando as permanências e rupturas, concluo que a colonialidade está presente e é perpetuada pelas Crenças Pedagógicas Coloniais, pois os professores acreditam que a relação entre professor e aluno deva ser uma relação rígida e autoritária. As rupturas, ligadas diretamente a cultura, entram de fora para dentro da escola, a língua crioula, é a língua falada por todos diariamente, o português passa a ser a língua chata, cheia de regras e dificuldades. A roupa e a música e a religião, são incorporadas diariamente nas festividades e relações familiares. Nessa direção, ressalto que esta pesquisa, além de analisar as permanências e rupturas da colonialidade no ensino da Geografia na Guiné-Bissau, buscou também propor espaços contra hegemônicos, pautados na decolonialidade, visando construir caminhos para pensar a formação e atuação dos professores de Geografia na Guiné-Bissau. e, nessa mesma linha, foram desenvolvidos projetos e ações com professores e estudantes guineenses, como ?O bom professor não bate?, ?Marcas do Colonialismo? e ?Geografia Decolonial?. Destaco que os passos e provocações contidos nesta tese se somam ao movimento de busca pelo rompimento da colonialidade no ensino da Geografia guineense, que se faz premente.
Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica, Florianópolis, 2024.
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