
Esta dissertação traz reflexões pertinentes aos meios e modos de educação científica numa perspectiva antirracista pensada através do referencial do Movimento Negro Educador e das reflexões possibilitadas por professoras da Educação Infantil. Inicialmente, apresentamos a trajetória da Educação para as Relações Étnico-Raciais (ERER) pelo aumento de pessoas negras na educação, vindo das ações afirmativas e trabalho histórico do Movimento Negro. Discutimos algumas vivências de divulgação da cultura africana, afro-brasileira e indígena para pensar a ERER na Educação em Ciências, bem como, o relato de experiência sociopoética ocorrida com profissionais de um Núcleo de Educação Infantil Municipal (NEIM) de Florianópolis, que apresenta um percurso de mulheres negras na liderança. Para compor os resultados, miramos a pesquisa a fim de responder como as vivências afrobrasileiras da Educação Infantil poderiam favorecer a intencionalidade antirracista na Educação em Ciências. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UFSC, com Certificado de Apresentação e Apreciação Ética nº: 28914819.3.0000.0121 e Parecer nº 3.910.99, e aconteceu com o método de grupo focal online durante à pandemia de CoVid-19. A partir de um quadro teórico de infância oxumística e exumística, através do qual, almejamos amor e liberdade no processo educativo, elencamos as categorias de análises: a) a eugenia de todo dia que revive o conceito biológico de raça na educação; b) corpos humanos livres: o afeto como método educativo; c) o método da visão e a contra-hegemonia; d) histórias, representações e cores: um estudo representativo na Educação em Ciências. Concluímos ao fim que o aumento de personagens negres, brincadeiras e histórias de origem africana, afro-brasileira e indígenas no contexto educativo aproxima o currículo formal e vivido do contexto social das crianças do NEIM. Essas vivências podem favorecer o antirracismo na Educação em Ciências quando conhecemos mais sobre quem produz e como se produz o conhecimento hegemônico, buscando em nossas falas docentes a versão da história que não foi contada, que podem romper o perfil de neutralidade acadêmica e interseccionar as pessoas cientistas, suas perguntas e métodos. Verificamos também que apesar dos estereótipos normativos advindos dos meios de comunicação de massas, o grupo do NEIM trabalha de diversas maneiras e apresenta um currículo imagético escurecido. Indicamos nesta pesquisa que assuntos como diversidades de gêneros e étnico-raciais sejam maximizados na formação inicial e continuada de educadores, pois são cruciais para a autoreflexão sobre o racismo estrutural que revivem os estereótipos nas práticas desafetuosas de normatização. Concluímos também que as mídias de divulgação afrodiáporicas, como vídeos de contação de histórias, livros literários e informativos do núcleo são potenciais materiais para a Educação em Ciências, pois todo humano existe em certo ambiente e interage com ele, sendo necessário, no entanto, uma sensibilidade docente para identificar criticamente mensagens que reafirmam lugares de inferioridade. Finalmente, a trajetória de mulheres negras na liderança do NEIM foi de influência positiva para os currículos da instituição, mas essa superexposição por vezes pode gerar desgaste físico e emocional, o que orienta o acompanhamento psicológico de modo integrado às formações sobre ERER.
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica, Florianópolis, 2021.
Autora: Suellen Souza Fonseca
Orientadora: Mariana Brasil Ramos