Antirracismo e Dissidência Sexual e de Gênero na Educação em Biologia: Caminhos para uma Didática Decolonial e Interseccional

quarta-feira, Outubro 12, 2022
Português, Brasil
Foto de Yonier Orozco
A decolonialidade é um movimento teórico e político surgido nas ciências sociais que vem apontando e levantando desafios nos contextos acadêmicos, entre eles os educativos. No campo da educação científica, incluindo o ensino de ciências e de biologia, existe um vazio didático da proposta decolonial, sendo necessário explorar as possibilidades e limitações da decolonialidade nesse campo. Por outro lado, as abordagens antirracistas e as abordagens sobre gênero e sexualidade vêm ganhando espaço na pesquisa em educação em ciências, embora para o caso colombiano essas aproximações ainda sejam tímidas. Porém, segundo nossos estudos ainda são poucas as aproximações entre estas duas categorias – decoloniais e interseccionais, que geralmente são estudadas separadamente. Esta pesquisa se pergunta pela interseção entre abordagens antirracistas e de dissidência sexual e de gênero no nível didático da educação em biologia, em perspectiva decolonial. O principal objetivo dessa pesquisa foi planejar, implementar e analisar propostas didáticas na educação em biologia, numa escola colombiana, sustentadas em abordagens antirracistas e da dissidência sexual e de gênero, e suas interseções, para a construção de fundamentos de uma didática decolonial. A pesquisa foi desenvolvida durante o ano escolar de 2020, atravessado pela contingência mundial da COVID-19. Metodologicamente, a pesquisa está articulada em três níveis: i). No nível político da pesquisa, no qual abordamos a ação da pesquisa e educativa como um processo de infecção, inspirados em propostas de sujeitos dissidentes das normas sexuais e de gênero da América Latina; ii). No nível científico, combinamos a construção de propostas didáticas e a sistematização de experiências; iii). No nível dos processos de ensino e aprendizagem em sala de aula, o trabalho esteve inspirado nas propostas de Pesquisa Escolar (PEs) e o Ensino de Ciências por Investigação (EnCI), materializados em projetos de pesquisa desenvolvidos com alunas(os) da sexta, sétima e oitava série do ensino básico de uma escola em Bogotá, Colômbia. Dos projetos realizados, sistematizamos a implementação de seis propostas didáticas, três delas fundamentadas nas abordagens antirracistas, duas fundamentadas em abordagens da dissidência sexual e de gênero, e uma fundamentada na interseção entre as duas abordagens. Essas propostas também foram vinculadas ao ensino e aprendizagem de conceitos da biologia, tais como alimentação e nutrição humana, respiração e citologia celular, sistema endócrino, menstruação e genética. Como resultados, encontramos que as pautas antirracistas e de dissidência sexual e de gênero, quando abordadas em perspectiva decolonial e interseccional na educação em biologia, permitem fundamentar propostas didáticas com um componente político explícito, que atravessa os objetivos de ensino e de aprendizagem, a maneira em que os conteúdos são selecionados e apresentados, a relação de negociação e desobediência com as normativas curriculares, expandir a perspectiva de concepções de aprendizagem para visões mais relacionadas com a identidade, o ser e a formação política, os recursos didáticos, as formas de avaliação, entre outros. Processos de muita potência, mas não livres de contradições e desafios éticos.
Destaque: 

Idiomas