O timbó compõe a mitologia Kurâ-Bakairi. A pesca com o timbó é realizada por alguns grupos indígenas com a utilização de um cipó, denominado popularmente como timbó, que, depois de ‘esmagado’ na água, intoxica os peixes. O presente texto visa analisar como a pesca com o timbó se constitui em uma temática de ensino de Ciências da Natureza em uma escola indígena Kurâ-Bakairi, a partir dos enunciados dos sujeitos sobre as práticas pedagógicas nessa realidade escolar e à luz da interculturalidade crítica e da decolonialidade. Este estudo possui como abordagem metodológica a pesquisa qualitativa do tipo descritiva e de perspectiva etnográfica, sendo realizada em uma escola do povo Kurâ-Bakairi da aldeia Aturua, Paranatinga, MT. Os dados foram constituídos em duas etapas. A primeira etapa consistiu na observação, realizada em várias idas a essa aldeia. Na segunda, fundamental na constituição dos resultados apresentados neste artigo, os dados foram coletados por meio do diálogo entre pesquisadoras, professor de Ciências e representante da comunidade. Os dados indicam que, embora utilizem o mesmo livro didático das escolas não indígenas brasileiras, esses professores ressignificam esse desafio a partir das possibilidades trazidas pela seleção de conteúdos e em diálogo com os conhecimentos ancestrais Kurâ-Bakairi. Portanto, essas práticas anunciam o encontro entre os diferentes conhecimentos, conforme defendido pela perspectiva intercultural crítica. Assim, considerando-se a defesa da decolonialidade, problematiza-se como a pesca com o timbó se constitui em espaço intersticial para o diálogo intercultural no ensino de Ciências e contribui com o rompimento/superação da colonialidade do saber-poder nessa escola.
Palavras-chave: Ensino de Ciências. Educação Escolar Indígena. Pesca com o timbó. Interculturalidadee decolonialidade.