segunda-feira, Dezembro 12, 2022
Português, Brasil
As abordagens Ciência-Tecnologia-Sociedade (CTS) ganharam destaque na Educação
Científica e Tecnológica (ECT) sobretudo pelo potencial crítico e pela capacidade de
articulação da formação científica à formação cidadã. Entretanto, por muitas vezes, as
abordagens CTS na ECT se valem de temas universais, como o Aquecimento Global e os
recursos Hídricos, desconsiderando as contradições típicas do Sul Global, marcadas pelos
efeitos de colonialidade do ser, do saber, do poder e da natureza. Nesse sentido, algumas
pesquisadoras e pesquisadores brasileiros têm se dedicado a incorporar as demandas da
sociedade brasileira e a luta por justiça socioambiental na pauta da ECT, de maneira a contribuir
para a superação das opressões de raça, classe e gênero que estruturam a nossa sociedade.
Somando-se a esse movimento, foi criado o grupo Aprendizes de Griô no âmbito do Instituto
Federal do Paraná. No momento da sua criação, constituí esse coletivo na companhia de
servidores/as e estudantes do câmpus Jaguariaíva do IFPR, que se uniram para pesquisar
referências afro-centradas e valorizar vozes que produzem conhecimentos e práticas que estão
na contramão de boa parte do que se ensina nas escolas brasileiras. Nessa perspectiva, no
momento da sua criação, as ações do grupo se dividiam entre: i) a elaboração de textos e
imagens de divulgação científica afro-referenciada no Instagram; e ii) a produção de um livro
com uma comunidade quilombola localizada próxima ao campus Jaguariaíva, a Comunidade
Quilombola Família Xavier. Diante desse contexto, temos como objetivo geral deste trabalho:
investigar as produções do grupo Aprendizes de Griô, visando estabelecer novos caminhos para
a Educação Científica e Tecnológica, de maneira a incorporar em sua agenda as denúncias e os
anúncios necessários à luta contra as estruturas opressoras da sociedade. Sem a pretensão de
propor uma metodologia universal para o desenvolvimento da ECT, ensejamos a proposição de
elementos que possam contribuir na promoção de uma educação científica socialmente
referenciada, que evidencie as relações CTS presentes no contexto brasileiro e que oriente a
educação em perspectiva emancipatória. Diante desse compromisso, lançamos mão de algumas
reflexões sustentadas pelos estudos decoloniais, por algumas ideias críticas de Paulo Freire e
pelas Epistemologias do Sul de Boaventura de Sousa Santos. Ademais, em vários momentos,
nos aproximamos de autores e autoras brasileiros(as) que têm se envolvido na luta contra o
racismo, o patriarcado, o capitalismo e diversas formas de opressão. Para além da aproximação
com os referenciais teóricos citados, conforme destacado anteriormente, desenvolvemos uma
pesquisa qualitativa com características de pesquisa participante em parceria com o coletivo
Aprendizes de Griô e com a Comunidade Quilombola Família Xavier. Lançamos mão da
Análise de Discurso de linha franco-brasileira articulada aos pressupostos críticos e decoloniais,
para analisar os sentidos de cidadania e de ciência e tecnologia que circularam nos trabalhos
desenvolvidos pelas Aprendizes de Griô. Como resultados, encontramos alguns elementos de
ciência e tecnologia em perspectiva contra-hegemônica e algumas dimensões de cidadania
coerentes com o contexto do Sul Global. A partir desses elementos, foi possível desenvolver o
conceito de “formação cidadã decolonial crítica” como uma proposta para o desenvolvimento
da ECT em perspectiva emancipatória e socialmente referenciada. Dentre os elementos que
constituem essa formação, destacamos a realização de denúncias e anúncios sobre a realidade,
partindo da identificação e do estudo das contradições, passando pela recusa à adaptação, até
chegar na práxis decolonial transformadora como forma de transformação da realidade.
Acreditamos que esses elementos podem contribuir para que a ECT seja reconhecida como
um instrumento de luta por uma sociedade mais justa, em que a humanidade de todes seja respeitada.
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